No início do mês, os cientistas do câncer comemoraram o Nobel de Medicina/Fisiologia concedido aos “pais “da imunoterapia do câncer, o americano James Allison e o japonês Tasuku Honjo. A partir de suas descobertas básicas, foi possível revolucionar a abordagem e criar um novo pilar de tratamento contra o câncer, além das já conhecidas até então: a cirurgia, a quimioterapia e a radioterapia.
“Existe um consenso na área médica de que a imunoterapia provavelmente será um dos principais pilares de tratamento oncológico nos próximos anos, inclusive associado a outras formas de terapias”, afirma Martín Bonamino, Especialista da Fiocruz, um dos coordenadores de pesquisas sobre imunoterapia no Instituto Nacional do Câncer (INCA) e integrante do Programa de Oncobiologia da UFRJ.
A imunoterapia consiste na aplicação de fármacos que visam estimular o próprio sistema imune do paciente para atacar o câncer, e foi desenvolvida a partir das investigações básicas destes dois cientistas. As pesquisas de James Allison e Tasuku Honjo se iniciaram na década de 1990, com o estudo das células do sistema imunológico, e a descoberta de moléculas que servem para ativar ou desativar essas células – no caso, a CTL-4, descoberta por James, e a PD-1, descoberta por Tasuku.
“Os tumores utilizam recursos para se esconder das células do nosso sistema imune, que são responsáveis atacá-los. O que os fármacos desenvolvidos a partir das descobertas de Allison e Honjo fazem é tirar esse escudo, desfazer esse esconderijo do tumor de modo que ele fique visível para que as células de defesa possam atacá-lo de novo”, explica Martín Bonamino.
Esta modalidade da imunoterapia – chamada de inibidores de checkpoint imunológico – está aprovada para comercialização pela Anvisa e é vendida por algumas indústrias farmacêuticas aqui no Brasil. Mas o alto custo é um obstáculo, já que o tratamento pode custar até R$30 mil por mês. De acordo com Martín Bonamino, a resposta dos pacientes varia muito conforme o tipo de câncer. Em alguns tipos de linfoma, por exemplo, existem dados que mostram que 80% dos pacientes responderam positivamente, enquanto em pacientes de um determinado tipo de melanoma esse índice cai para cerca de 30% dos pacientes. “Tem vários aspectos do tumor que influenciam se a resposta vai ser boa ou não, e a gente ainda está aprendendo a identificar os critérios que vão definir quais pacientes vão responder bem à imunoterapia”, afirma Martín Bonamino, que lembra que diversas pesquisas sobre o tema estão em curso no Brasil.
Importância das pesquisas básicas
Para o pesquisador do INCA, o prêmio Nobel tem um gosto especial, já que exemplifica o caso de uma pesquisa básica, que se iniciou no laboratório, e passou por todas as etapas de desenvolvimento até chegar a uma terapia inovadora, que tem salvado vidas em todo o mundo, além de quebrar paradigmas e iniciar uma nova frente de estudos e pesquisas.
“Isso só reforça porque a gente tem que se dedicar a entender os mecanismos básicos das células para conseguir desenhar as terapias que vão revolucionar o tratamento. Principalmente nesse cenário de corte de recursos para os estudos, não podemos esquecer da importância das discussões conceituais. A gente tem que quebrar paradigmas e descobrir coisas novas, para mudar o campo do tratamento oncológico”, conclui Martín.
Por Rosa Maria Mattos, jornalista de Ciência, responsável pelo Núcleo de Divulgação do Programa de Oncobiologia.
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