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Embriões de rãs na busca por novos compostos contra o câncer colorretal

Atualizado: 13 de dez. de 2022

Um grupo de pesquisa da UFRJ está utilizando seu conhecimento sobre o desenvolvimento embrionário para testar novos medicamentos contra o câncer colorretal. Além dos tradicionais métodos de experimentação - que incluem ensaios com células do câncer e em camundongos - o grupo utiliza embriões de rãs para avaliar a potência de compostos naturais, obtidos de plantas e frutas, na morte de células cancerígenas.


O grupo é coordenado pelo professor José Garcia Abreu - atual diretor do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade Federal do Rio de Janeiro e coordenador do Laboratório de Embriologia de Vertebrados. Recentemente credenciado no Programa de Oncobiologia, o laboratório tem anos de pesquisa sobre a via WNT - uma via celular muito importante no funcionamento do corpo humano, e que tem dois papéis que vão nos interessar ao longo desse texto: a WNT atua no desenvolvimento dos embriões humanos - e de todos os outros vertebrados, e, na vida adulta, no surgimento dos pólipos que antecedem o câncer colorretal. O objetivo dos pesquisadores é desenvolver novos compostos químicos, inspirados em compostos naturais, que atuem na via WNT para combater o câncer colorretal.


O laboratório pesquisa há mais de 15 anos a via de WNT no desenvolvimento embrionário e do sistema nervoso em um modelo científico pouco comum nas pesquisas sobre o câncer: embriões de rãs do gênero Xenopus. Por que logo rãs? "Porque são embriões grandes, a gente faz a fertilização in vitro, e manipula o desenvolvimento de fenótipos ativando ou inibindo a via WNT˜, responde o pesquisador José Garcia.


A partir desse modelo, os pesquisadores desenharam um sistema para identificar compostos químicos capazes de modular a via WNT em dois sistemas diferentes: in vitro, em uma linhagem celular que tem todas as características bioquímicas de uma célula do câncer colorretal, e nos embriões da rã Xenopus. " É um trabalho muito árduo porque a gente às vezes encontra um composto químico que funciona na célula, mas quando coloca no embrião, não funciona. Ou que funciona no embrião, mas não funciona na célula", conta José Garcia. "Ter o resultado semelhante nas duas pontas, tanto na célula simples como no sistema embrionário, muito mais complexo, nos dá uma certeza de que estamos lidando com um inibidor fidedigno da via", complementa.



Compostos naturais anti-câncer colorretal


Com esse sistema de testagem montado, o grupo de pesquisa está agora avaliando diversos compostos químicos de origem natural, extraídos e purificados de plantas, pertencentes ao grupo dos flavonoides, e que estão na dieta alimentar das pessoas. Até agora, cinco compostos mostraram-se com características inibitórias da via de WNT. Mas não basta saber se uma substância inibe ou não inibe a via WNT, é preciso saber COMO. "Após essa identificação inicial, nós fazemos ensaios celulares funcionais para saber se a gente tem uma atividade antiproliferativa e antimigratória, e se a substância atua na modulação do ciclo celular", afirma José Garcia.


Em um dos trabalhos, o grupo demonstrou que a Isoquercitrina - tinha baixa toxicidade em células não-tumorais, inibia proliferação celular e a migração das células tumorais. Em outro trabalho, que aguarda a publicação, uma das pesquisadoras do grupo estudou a piperina - um composto natural que vem da pimenta do reino, e que apresenta um efeito antitumoral bastante significante. "E no momento estamos com um trabalho muito forte, prestes a ser enviado para a publicação, que é do composto chamado lonchocarpina, um flavonoide que inibe a via wnt com a concentração mais baixa que nós pudemos definir aqui no laboratório. Ou seja, com uma quantidade dele muito pequena ele é capaz de suprimir a via wnt", afirma José Garcia. " Nossos dados revelaram que este composto conseguiu afetar, desacelerar o ciclo celular fazendo com que as células parassem de proliferar, e diminuindo a formação de adenomas e carcinomas no intestino do animal", conclui o pesquisador, que ressalta ser ainda necessário estudar melhor os mecanismos pelos quais as moléculas foram alteradas nesse caso específico.


Ainda este ano, o grupo pretende iniciar uma nova forma de testagem de compostos: em organóides, modelos celulares tridimensionais que representam as células do intestino mas em uma placa de petri. Com os organoides, seria possível diversificar as formas de verificar a eficiência das substâncias evitando experimentos com camundongos. O grupo também pretende avançar no estudo dos compostos naturais - e também no desenvolvimento de novos compostos, baseados nas moléculas naturais, para que possam ser eventualmente patenteados e cheguem aos pacientes com câncer.


Um trabalho que envolve anos de experiência, a participação de muitas pesquisadoras e pesquisadores, e conta com a colaboração de grupos de química, de desenho de compostos, e de câncer colorretal.



Por Rosa Maria Mattos, jornalista de Ciência, responsável pelo Núcleo de Divulgação do Programa de Oncobiologia.

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